sábado, 3 de abril de 2010

Sem revitalização, Setor Comercial Sul está praticamente abandonado


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O local, que já foi o principal ponto de escritórios do Plano, hoje sofre com a decadência urbana. Prédios e praças não têm manutenção

Mara Puljiz - Correio Braziliense
Publicação: 03/04/2010 08:32 Atualização: 03/04/2010 11:08
Quando passa entre as praças e edifícios do Setor Comercial Sul, o aposentado José Aldemir Holanda, 66 anos, não se conforma com as inúmeras pichações, a sujeira, infiltração nas paredes dos blocos, carros em fila dupla, tripla e os estacionamentos tomados por flanelinhas. A quantidade de moradores de rua deitados pelas calçadas e pedintes também assusta. O tempo em que José podia caminhar por ali com tranquilidade — há cerca de 20 anos — ficou mesmo no passado. “Trabalhei como bancário no Setor Comercial Sul durante muitos anos, mas naquela época eu conseguia estacionar o carro e tomar cerveja com os amigos depois do serviço. Fazer isso hoje em dia nem pensar”, lamentou.

Mas o setor um dia teve seu glamour. Nas décadas de 60 e 70, os edifícios espalhados pelo local eram procurados por várias autoridades que queriam montar seus escritórios. Até mesmo o ex-presidente Juscelino Kubitschek tinha uma sala no Edifício Denasa, na quadra 2. Hoje, não é difícil encontrar empresários migrando para outros setores menos movimentados, porém, mais seguros e organizados. Parte da beleza característica do Setor Comercial Sul, projetado pelo urbanista Lúcio Costa, também desapareceu. Quem olha para a maioria dos prédios se depara com uma pintura apagada e paredes manchadas pela água da chuva e do ar-condicionado.

Mais de 50 mil pessoas circulam todos os dias pelas calçadas que estão entre as mais antigas da capital federal. É gente de todo o tipo, de todas as classes sociais e credos que transitam diariamente pelos 40 mil metros quadrados do setor. A vida não para no Setor Comercial Sul. O movimento no comércio começa antes mesmo das 6h e só esfria depois das 18h, quando a correria abre espaço para os perigos da vida noturna. Traficantes se escondem pelos becos e a prostituição toma conta dos corredores dos edifícios. Segundo o comandante da Polícia Militar do DF, coronel Luiz Fonseca, as operações ocorrem com frequência.

Entre as questões mais difíceis está o tratamento com o menor infrator autores de furtos na localidade. “A polícia faz o papel dela, mas nosso trabalho é de enxugar gelo porque 80% daqueles que são levados para a delegacia acabam sendo soltos”, disse. Muito mais que a repressão contra as drogas, Fonseca avalia que a situação não vai mudar enquanto o Estado não encarar o problema como saúde pública e encaminhar esses jovens para tratamento do vício.

Quando se pensa em Setor Comercial Sul, difícil não lembrar do trânsito complicado. Estacionar é uma missão difícil e muitas pessoas não encontram outra alternativa a não ser entregar a chave para os flanelinhas. Em 2008, o governo anunciou a criação de 1,5 mil vagas subterrâneas de estacionamento, mas o projeto até agora não saiu do papel.

A três semanas de completar 50 anos, Brasília não deverá cumprir todas as promessas de revitalização. No Setor Comercial Sul, apenas duas obras estão em execução: a de renovação do meio -fio, calçadas e plantio de plantas nas praças. Mas os comerciantes e lojistas reclamam dos transtornos causados em razão das obras. As calçadas antigas, por exemplo, começaram a ser trocadas no ano passado, mas até agora apenas a área central foi concluída.

O prefeito comunitário, Fernando Raposo, reconhece que ainda é preciso fazer muito para revitalizar o setor, mas fez questão de lembrar que já conta com algumas melhorias, principalmente no que se refere à presença de camelôs e à acessibilidade no local. “Desde 2008, não tem mais ambulante obstruindo a passagem de pedestres”, destacou. De acordo com a administradora de Brasília, Eliana Klarmann, a primeira etapa de revitalização inclui melhoria da iluminação, das calçadas e plantio de árvores. “Queremos trazer um novo dinamismo para o Setor Comercial Sul, respeitando o projeto original. Mas algumas questões não dependem apenas da administração”, destacou. Ela acredita que esses trabalhos sejam concluídos até 21 de abril, quando a capital completa seu cinquentenário.

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