segunda-feira, 26 de abril de 2010

Boom imobiliário torna o DF terra de corretores




Diego Amorim - Correio Braziliense
Publicação: 25/04/2010 10:16 Atualização: 25/04/2010 19:47
Líbia Dalva, formada em Direito pela UnB - ( Iano Andrade/CB/D.A Press )
Líbia Dalva, formada em Direito pela UnB
Sem salário fixo nem a estabilidade tão prezada em terra de servidor público, a profissão de corretor de imóveis se transformou em uma das mais promissoras na capital federal. Em nenhum outro lugar do país, ganha-se tanto dinheiro vendendo casas e apartamentos como em Brasília. Advogados, engenheiros, economistas e até profissionais de saúde têm migrado para a corretagem. No ano passado, o contingente desses profissionais saltou 21,7% no Distrito Federal, segundo levantamento do Conselho Federal dos Corretores de Imóveis (Cofeci). O crescimento nacional foi de 11,5%.

O boom imobiliário da última década provocou uma mudança no perfil do corretor. Antes encarada como atividade de fim de carreira ou apenas uma oportunidade para verba extra, a corretagem virou profissão cobiçada por jovens recém-formados, cada vez mais dispostos a investir no ramo. O mercado superaquecido passou a exigir profissionais especializados e em constante formação. Atentas a uma demanda crescente, escolas de negócios começam a oferecer cursos de gestão imobiliária.

Há cerca de 8,5 mil corretores em atuação no DF. E todo mês o Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci) credencia cerca de 200 profissionais. Em tese, 5% do valor do imóvel vendido fica com o corretor. Mas geralmente esse percentual é repartido na imobiliária à qual ele está associado, se for o caso. Por mês, um corretor ganha no Brasil, em média, de R$ 2 a R$ 3 mil. No DF, a média sobe para R$ 5 mil. Em meses de pico de vendas, alguns chegam a faturar R$ 30 mil ou mais.

Como todo autônomo, no entanto, o corretor não tem dinheiro certo no fim do mês. Aqueles que trabalham para imobiliárias ganham, no máximo, uma ajuda de custo para gastos com combustível, telefone e alimentação. De resto, é ele quem faz o próprio salário. No DF, os preços dos imóveis atraem corretores de outros estados. Em um lugar onde o metro quadrado pode custar R$ 12 mil, aumenta-se a chance de ganhar uma bolada em uma única venda.

O Noroeste e os investimentos em cidades do DF e do Entorno crescem a expectativa por ganhos elevados e a curto prazo. O presidente do Creci, Hermes Alcântara, nega modismo ou deslumbramento em torno da profissão. “Isso é real. Só tem um jeito de o mercado desaquecer: se revogarem a lei da oferta e da procura”, diz. “Pelo menos nos próximos 20 anos, o corretor será a profissão do momento, ainda mais em Brasília”, completa o presidente do Cofeci, João Teodoro da Silva.

Mudança
A família e os amigos de Líbia Dalva, 24 anos, formada em direito pela Universidade de Brasília (UnB), se espantaram quando ouviram dela a decisão de trabalhar como corretora. Filha de procurador aposentado, irmã de servidor do Ministério Público, a jovem estava predestinada a encarar a rotina de concurseira após a formatura, em 2008. “Para frustração geral, peguei outro caminho”, afirma ela, que começará no mês que vem uma pós-graduação voltada para construção civil e gestão imobiliária.

Em dezembro do ano passado, Líbia consagrou-se a corretora que mais vendeu na imobiliária onde trabalha. Encontrou dono para 23 apartamentos. “A família e os amigos pensaram que eu ficaria só um tempo e depois cansaria dos plantões nos fins de semana e feriados. Mas, pelo contrário, me apaixonei ainda mais”, diz. As 13 horas de trabalho por dia, em média, têm rendido um bom salário, que ela não revela, mas reconhece ser maior que o de muitos servidores públicos. “E eu quero mais”, pondera.

Vida de corretor é aventura. Seis anos atrás, o farmacêutico Rafael Faria de Melo, 26, também optou por ela. Trocou o jaleco pela gravata. Largou o emprego em que ganhava R$ 1,2 mil e encarou os salários incertos. “Tinha tudo para deslanchar na área de saúde, mas sou ambicioso”, comenta Rafael, que hoje coordena uma equipe de 23 corretores e, segundo ele, chega a ganhar, em meses de lançamentos, 12 vezes mais que no trabalho anterior.

Segundo mercado

Em fevereiro deste ano, o Correio divulgou que o mercado imobiliário do Distrito Federal ultrapassou o do Rio de Janeiro e, em 2009, se consolidou como o segundo do país em faturamento e em número de unidades vendidas. Os lançamentos movimentaram R$ 11,7 milhões por dia, um total de R$ 4,3 bilhões no ano. Cerca de 14 mil unidades ganharam o mercado brasiliense.

Personagem da notícia: Corretor José Maria Pereira Cirqueira já foi porteiro, eletricista e encarregado, em Águas Claras - (Iano Andrade/CB/D.A Press )
Personagem da notícia: Corretor José Maria Pereira Cirqueira já foi porteiro, eletricista e encarregado, em Águas Claras
Escalada Radical


Ele vende apartamentos do prédio que ajudou a erguer. José Maria Pereira Cirqueira, ou simplesmente Zé Maria, nasceu em Goiânia. Depois, mudou-se para Belém, no Pará, onde se casou, teve duas filhas e trabalhou como vendedor de roupas. O negócio não deu certo e ele decidiu se mudar para o Distrito Federal em busca de emprego. No primeiro bico, como vigia de obra, ganhava R$ 450 por mês. Em seguido, virou porteiro no Sudoeste. Acabou demitido por “corte de gastos” e chorou.

Longe da família, se virou como pôde: foi padeiro, confeiteiro, cabeleireiro, eletricista. Em 2004, conseguiu ser “fichado” em uma obra de Águas Claras. Carregou tijolo, areia e suou muito para colocar de pé mais um arranha-céu do maior canteiro de obras da América Latina. Nesse meio tempo, separou-se da mulher. Transferido para o almoxarifado da obra, encantou-se com o trabalho dos corretores que visitavam o prédio inacabado. Certo dia, foi convidado por um deles a fazer o curso.

Zé Maria topou o desafio. Pediu demissão e usou o seguro-desemprego para pagar as aulas. Em 2008, celebrou a carteira profissional do Creci. Comprou calça social, sapato, mandou fazer faixas e cartões de visita, pagou anúncios no jornal e começou a trabalhar. Hoje, de ônibus e metrô, percorre o DF inteiro com uma boina na cabeça e o nome Zé Maria estampado na camisa. Em pouco mais de um ano, calcula ter vendido 32 apartamentos, inclusive no prédio onde trabalhou na construção.

O salário de R$ 450 ficou no passado. O ajudante de obra que virou corretor engorda o pé de meia a cada mês. Comprou 38 cabeças de gado, mas não quer carro nem imóvel próprio. Por quê? Em 10 anos, quando estiver com 52 anos, planeja abrir uma pousada em algum lugar do Norte ou Nordeste. Até lá, pretende economizar e vender muitos apartamentos. “Anota aí: corretor só existe porque insiste. Ninguém quer saber se eu tenho carro ou não, querem comprar imóvel, e eu vendo”, diz Zé Maria.

Picaretas atrapalham

Para não ter de pagar honorários a corretores e imobiliárias, há quem decida vender imóveis por conta própria. Na avaliação do presidente do Creci, Hermes Alcântara, muita gente não confia no trabalho do corretor. “Os picaretas mancham a nossa imagem”, afirma. Somente nos três primeiros meses deste ano, o conselho identificou 69 pessoas que exerciam a profissão ilegalmente. Sete funcionários são responsáveis pela fiscalização em todo o DF.
Quem atua como corretor sem ter o curso específico nem a carteira do Creci comete uma contravenção penal e, por isso, pode pegar de 15 dias a três meses de prisão, além de ser obrigado a pagar multa. Mas, geralmente, quando levado à delegacia, o acusado assina um termo circunstanciado e é liberado. "O primeiro erro parte do comprador, que não procura saber se aquele corretor é ou não credenciado", comenta Alcântara.

Para saber mais

Atividade exige curso

Para ser corretor, é preciso fazer um curso de técnico em transações imobiliárias — de 900 horas/aula de duração — ou um curso de nível superior em gestão de negócios imobiliários — de dois anos de duração. Em Brasília, o curso superior é oferecido pela Unieuro. Os técnicos, por seis escolas. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) oferece MBA na área.
Com o certificado do curso em mãos, é preciso fazer a inscrição no Conselho Regional de Corretores de Imóveis. A anuidade é de R$ 395. Em 12 de maio de 1978, foi aprovada a chamada Lei dos Corretores de Imóveis — Lei Federal nº 6.530 —, que regulamentou a profissão.

Dicas

Todo corretor deve ter uma carteira do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci). Não feche negócio com quem não seja cadastrado. Imobiliárias também precisam ser cadastradas

Exija o contrato de prestação de serviço e o leia com atenção. Verifique a documentação do imóvel e do vendedor

Fique esperto: realizar
cadastro de reserva não garante
a compra do imóvel

Peça para ler a minuta do contrato do imóvel e, se sentir necessidade, leve-a para um advogado especializado na área ou procure o Procon

Certifique-se de que as informações presentes nos folhetos entregues pelos corretores condizem com a planta apresentada, se for o caso. Guarde todo o material promocional do empreendimento

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