domingo, 4 de abril de 2010

Programa Minha Casa, Minha Vida faz o preço dos imóveis disparar



Quem é pobre vê o sonho ficar distante e o governo não tem saída para o pesadelo

Mariana Branco - Correio Braziliense
Publicação: 04/04/2010 09:44
No Condomínio Total Ville, em Santa Maria, o valor inicial de imóveis construídos pelo programa varia de R$ 94,4 mil a R$ 150 mil - (Adauto Cruz/CB/D.A Press )
No Condomínio Total Ville, em Santa Maria, o valor inicial de imóveis construídos pelo programa varia de R$ 94,4 mil a R$ 150 mil
Criado para garantir o acesso à casa própria pela população de baixa renda, por meio de imóveis baratos e condições facilitadas de financiamento, o programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, aqueceu o mercado da construção civil e imobiliário no Distrito Federal e Entorno. A proliferação de canteiros de obras e os muitos fechamentos de contratos de empréstimo sinalizam que o plano está caminhando. O movimento natural de aumento da demanda e de urbanização de zonas desocupadas causou um efeito colateral negativo no DF e nas cidades goianas mais próximas: o preço de imóveis e terrenos disparou no período de um ano. O fenômeno é alvo de queixas da população e motivo de desconforto para o poder público. 

A valorização acentuada dos imóveis pode ser verificada com clareza em Planaltina de Goiás, cidade a 80 quilômetros de distância da capital federal. Lá, casas de dois e três quartos nos setores Leste e Oeste, que há um ano custavam entre R$ 40 mil e R$ 50 mil, hoje estão no mercado por valores que vão de R$ 75 mil a R$ 100 mil, de acordo com os moradores da cidade e de regiões próximas. As imobiliárias confirmaram o movimento de alta dos preços.

Os setores Leste e Oeste ficam próximos à área central do município e são bairros nobres de Planaltina-GO. Mas, mesmo em áreas mais afastadas, os preços estão salgados. A União Alves Imobiliária, uma pequena construtora, ofereceu, por telefone, casas de dois quartos no loteamento Santa Rita, no Setor Norte, por R$ 80 mil. Um funcionário disse que os imóveis são destinados ao Minha Casa, Minha Vida e estarão prontos em um ou dois meses. Ele admitiu que a área é distante do centro, mas disse que fica próxima ao Batalhão da Polícia Militar e a alguns supermercados. 

Ponto de partida 
Em Santa Maria, no DF, primeira cidade do país a firmar convênio com o governo federal para a implantação do Minha Casa, Minha Vida, o condomínio Total Ville, de apartamentos e casas destinados ao programa, tem apartamentos de dois quartos a R$ 94,4 mil, e casas de três quartos por valores a partir de R$ 150 mil. O empreendimento, da construtora Direcional, ainda está na planta e tem previsão de entrega em 2012. Ele fica às margens da BR-040, e não no interior da cidade. Imobiliárias informaram ao Correio que, há um ano, os imóveis custavam entre R$ 70 mil e R$ 80 mil perto da região central de Santa Maria. Hoje, não saem por menos de R$ 98 mil. A média de preços na região é mais elevada porque o metro quadrado do Distrito Federal é mais caro do que o de Goiás. 

Em Valparaíso de Goiás, a 30 quilômetros de Brasília, e em Luziânia, a 66 quilômetros da capital, que também têm projetos do Minha Casa, Minha Vida, os preços de imóveis subiram igualmente. Na primeira cidade, imóveis na faixa de R$ 60 mil há um ano hoje custam R$ 75 mil e até R$ 100 mil. Em Luziânia, os preços saltaram de R$ 50 mil para valores entre R$ 60 mil e R$ 75 mil. 

Valores seguem na contramão
O frentista Ilton Corrêa, 43 anos, não pode se candidatar a um financiamento do Minha Casa, Minha Vida porque tem um imóvel e um terreno. Mas foi afetado pela alta do preço dos imóveis no DF e Entorno. Ilton mora em uma casa em seu nome em Planaltina de Goiás e tem um lote em Sobradinho (DF), no valor aproximado R$ 110 mil. Nele, familiares, sem dinheiro para construir, se acomodam em barracos de madeirite. A intenção do frentista era vender o terreno do DF e adquirir duas casas para as filhas em Planaltina-GO, na faixa de R$ 40 mil cada. Com os novos valores do mercado de imóveis no município vizinho, entretanto, o sonho tornou-se impossível. 

Um outro morador de Sobradinho, que prefere não se identificar, conseguiu sair do aluguel no DF para uma moradia própria em Planaltina de Goiás, utilizando o programa Minha Casa, Minha Vida. Mas adquirir uma casa na cidade goiana saiu mais caro do que ele imaginava. 

Ronaldo (nome fictício), 27 anos, é auxiliar de escritório e tem renda de R$ 1,5 mil, complementada eventualmente por serviços temporários. Ele ficou animado quando um colega de trabalho contou que, em março do ano passado, adquiriu uma casa de três quartos em Planaltina-GO por R$ 50 mil e decidiu que iria morar na cidade. Teve crédito de R$ 60 mil e subsídio de R$ 23 mil aprovados na Caixa Econômica e saiu à cata de uma boa casa há cerca de três meses. Mas só encontrou imóveis com preços entre R$ 80 mil e R$ 100 mil, após bater na porta de quatro imobiliárias. Acabou ficando com uma casa de particular no Setor Leste, ao custo de R$ 80 mil, com dois quartos em lugar dos três que queria. Ele vai pagar prestações de R$ 462. 


Para saber mais
Plataforma de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Minha Casa, Minha Vida foi lançado em 2009 no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O incentivo à construção civil teve dois objetivos: dar fôlego ao setor durante a crise econômica de 2008 e 2009 e servir de vitrine à candidatura à Presidência da ministra Dilma Rousseff (PT). Na primeira etapa, a União destinou R$ 16 bilhões à cadeia produtiva e R$ 1 bilhão para crédito aos consumidores. A segunda etapa contará com R$ 71,7 bilhões para a construção de 2 milhões de casas em quatro anos.

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