terça-feira, 13 de abril de 2010

Inundações fazem moradores de Vicente Pires venderem imóveis a preços baixos


Toda vez que chove é o mesmo drama: a água desce toda para a via mais baixa da cidade e inunda as casas

Saulo Araújo
Publicação: 12/04/2010 08:29
Num só dia, havia 17 faixas de oferta de lotes e casas na Rua 3 - (Fotos: Breno Fortes/CB/D.A Press
)
Num só dia, havia 17 faixas de oferta de lotes e casas na Rua 3
“Vendo.” Essa é a palavra mais comum na Rua 3 de Vicente Pires. Andando pela avenida, uma das principais da cidade, é possível encontrar 17 faixas ofertando imóveis. A explicação para tanta gente querendo mudar de endereço é uma só: quando chove, as casas são inundadas. Os problemas causados pela força da água são antigos em Vicente Pires, mas a situação da Rua 3 se agrava pelo fato de ela ser a mais baixa.

A água de todas as quadras desemboca justamente no local. Sem perspectivas de melhoria, os moradores anunciam suas casas por até 40% abaixo do valor de mercado e, mesmo assim, encontram dificuldades para achar interessados. O vendedor Paulo Lopes, 46 anos, há seis meses tenta vender um lote e uma residência na rua. Ele conta que recebe muitas ligações durante o dia, mas as pessoas sempre desistem do negócio quando são informadas do endereço. “Ou desistem ou querem pagar um preço muito baixo, que não vale a pena vender. O problema com a chuva desvalorizou muito os imóveis daqui. Uma casa de quatro quartos e suíte, na Rua 3, vale a metade de uma de dois quartos e com apenas um banheiro em outro lugar de Vicente Pires”, compara Paulo.

O motorista Josian Pereira, 34 anos, está amadurecendo a ideia de sair de Vicente Pires para outro lugar. Também morador da Rua 3, ele diz que os gastos com os reparos na residência são altos. “Nós, os moradores, é que temos que fazer alguma coisa para que a chuva não invada nossas casas. A situação está ficando insustentável. Estou pensando seriamente em anunciar minha casa e sair daqui”, afirma.

Irregular
Os transtornos não são exclusividade da Rua 3. Percorrendo as ruas do parcelamento, nota-se que quase todas possuem o solo destruído pela ação da água. Em alguns, como a Rua 10, uma cratera engoliu parte do asfalto. Com apenas metade da pista transitável, os motoristas passam devagar próximo ao buraco, pois qualquer manobra errada pode acabar em acidente. O administrador da cidade, Márcio José de Melo, visitou o lugar esta semana.

Acompanhado de três engenheiros, ele chegou à conclusão de que a primeira providência para minimizar o problema é tapar o buraco da Rua 4, pois é por ali que a água da chuva se concentra e segue com força para a Rua 3. A ideia é fazer com que essa água seja captada por manilhas e siga seu curso sem causar danos. Porém, por Vicente Pires ser um parcelamento irregular, a obra depende de autorização do Instituto Brasília Ambiental (Ibram). “É uma obra emergencial. Já enviamos o pedido ao Ibram e, ao recebermos o aval do órgão, colocaremos as máquinas para trabalhar de imediato”, afirmou o administrador, que assumiu o cargo há uma semana.

As autoridades afirmam que esse é o preço que os moradores pagam pela ocupação desordenada do solo. O presidente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Gustavo Souto Maio, ressalta que as residências construídas à revelia da lei causaram um impacto ambiental muito grande na região e, enquanto a regularização não sair — Vicente Pires é um dos parcelamentos que estão na lista de regularização do GDF — pouca coisa pode ser feita.

“Sabemos de todos os problemas causados pela chuva em Vicente Pires, mas é uma situação delicada por se tratar de uma região irregular. Não podemos fazer muita coisa naquela região porque se não o Ministério Público nos cobra explicações. Se nós autorizarmos uma benfeitoria na Rua 4, teremos que liberar para as demais áreas de Vicente Pires, que também carecem de infraestrutura”, justifica Souto Maior, que enfatiza que qualquer melhoria em áreas carentes de regularização depende do estudo de impacto ambiental do Grupo de Análise e Aprovação de Parcelamentos do Solo e Projetos Habitacionais (Grupar). “Estamos aguardando o parecer do Grupar para saber o que podemos fazer nessas áreas. Saber como ficarão as casas situadas em Área de Preservação Permanente.

Segundo a gerente de regularização do Grupar, Eneida Aviani,o resultado dessa análise deve ser divulgado em breve. “O estudo em fase final de análise da elaboração do resultado e, quando estiver pronto, encaminharemos ao Ibram”, resumiu Eneida.

Enquanto a situação da cidade continua indefinida, os moradores procuram alternativas para diminuir os prejuízos causados pela chuva. Os proprietários das chácaras situadas às margens da avenida da Rua 3 reforçaram os muros de sua propriedade e discordam dos argumentos do governo. “O mais engraçado é que falam que não podem fazer nada em Vicente Pires porque é irregular, mas há mais de três anos que eu pago IPTU, água e luz”, reclama o servidor público Leonardo Alcântara da Silva, 36 anos.

Proteção

As Áreas de Preservação Permanente são de grande importância ecológica, cobertas ou não por vegetação nativa. Elas preservam os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, protegem o solo e asseguram o bem-estar da população. Como exemplo de APP estão as áreas de mananciais, as encostas
e as matas.




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